2 de agosto de 2020





todo mundo é tarja preta.
só munda a miligramagem.



eu canto porque sou eterna
terráquea e pássara
eu canto porque tantos já cantaram
e tantos outros eternamente cantarão
cantar a vida - essa necessidade fisiológica do poeta
eu canto como ando como como
canto porque minha vida é essa
observar com os sentidos
voar por entre mentes
abrir as portas todas, arremessar cadeados, pintar as ruas, libertar aquele que não sorri, ou aquele que não pensa - ou aquele que pensa em excesso e assim, enlouquece; sensibilizar os duros, os cheios de verdades emburrecidas, fedidas, apodrecidas, tombadas, azedas, validadas; cutucar os mortos de fome de vida, os mortos em vida
(sentir-me brutalmente burra, e brutalmente genial)
canto porque como vocábulos
anseio letras
respiro reflexões, poetas, filósofos
são meu alento
meu sustento
a caneta é a ponte
o coração é o suporte
o amor é a fonte
canto porque o mundo me encanta
as coisas castigadas, condenadas e pouco óbvias
e todas as óbvias
e as sem-nome
as sem-cor
eternamente cantando
com uma caneta.
só assim acesso o oxigênio.
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13 de maio de 2017

menos carão.

mais aeróbica cerebral.

o mundo agradece.

memória pouca é bobagem.
como descrever...

no momento mais impróprio, estranho e raro, 
espio de longe uma menina, tão linda quanto o céu, tão mística quanto a lua, 
tão misteriosa quanto a noite...

tão única quanto o tempo presente, que nunca se repete.

no momento mais inóspito, confuso, nebuloso de minha vida, eis que vejo uma fada urbana.

assim, ali.
a metros de mim...

a luz chega a cegar...

às vezes jogada, cansada...
às vezes vívida, introspectiva e despojada.
outras pensativa, em si mesmada... 

mas sempre tão bela, sutil, delicada. calada e marcante.
simples e requintada.

uma visão épica no meio do surto urbano paulistano.

um oásis feminino, trêmulo, inseguro, e cheio de forças ainda represadas. selvageria e timidez. pulsão de vida e morte. muito poder. muita vida por vir. 

muita luz!
muita alquimia, para além de qualquer filosofia.

séculos e Avalons e feiticeiras e bruxas sagradas e a força da mãe terra, todas evocadas, seja por onde ela passe.

abre-se um tipo de portal...

tanta beleza, meu deus, a beleza pura que nos deixa hipnotizada frente a uma árvore de centenas de anos... um céu límpido e cheio de estrelas e lua que parece estar tão perto que hipnotiza...

um ser-fada que ainda não se sabe em sua totalidade.
uma menina-mulher cristal.

uma grande guerreira selvagem, espiritualizada e fatal.

uma menina-mulher no armário.
no sagrado armário da vida. 

mística e intelectual.
autêntica e global.

fenomenal.

a vida é mesmo mágica.

quando menos esperamos, a magia se apresenta, sem nem dar qualquer sinal.

(...e assim, nos leva, inevitavelmente, à redenção fatal: navegar é preciso, afinal. a fenomenologia da vida está lá fora. fora das doenças. fora do ego. fora do buraco negro da noite escura da alma. a magia está lá, no mundo possível, real, atual.)


"Gracias a la vida, que me ha dado tanto..."
Violeta Parra